O que é um transplante renal?
O transplante renal é o procedimento médico-cirúrgico no qual um rim, que anteriormente era de outra pessoa (doador), é colocado num indivíduo cujos rins não desempenham a sua função (receptor). Este rim passa a desempenhar todas as funções dos rins originais.
Neste tipo de transplante o dador pode ser vivo ou morto (morte cerebral). No caso de dador vivo, este pode ser da família (pai, mãe, irmão, filhos), ou outra pessoa relacionada com o receptor. Todos os dadores vivos devem estar em plena consciência do acto que estão a praticar. Após serem examinados clínica e laboratorialmente e se não apresentarem nenhuma contra-indicação podem doar o rim. Algumas vezes são realizados transplantes com doador vivo não relacionado (por exemplo: esposa (o)). Nesses casos a investigação realizada é muito maior e deve haver algum grau de compatibilidade dos tecidos para não haver rejeição. É muito importante que o sangue e os tecidos do dador sejam compatíveis com os do receptor. Essa semelhança evita que o sistema de defesa imunológica do receptor estranhe o novo rim e o rejeite. Para isso, são feitos exames da tipagem sanguínea (ABO) e dos antígenios dos glóbulos brancos (HLA).
Para as pessoas cujos rins deixaram de funcionar, o transplante é uma alternativa à diálise que lhes pode salvar a vida e que além disso tem sido efectuado com êxito em pessoas de todas as idades.
O transplante é uma grande cirurgia porque o rim doado deve ser ligado aos vasos sanguíneos e às vias urinárias do receptor.
Na doação intervivos, a nefrectomia (remoção do rim) pode ser realizada através do método convencional ou laparoscópico. As vantagens da técnica laparoscópica incluem: cirurgia menos invasiva, menor cicatriz, menor tempo de internamento hospitalar e maior aceitação de muitos doadores. As potenciais complicações associadas à nefrectomia, seja laparoscópica, seja convencional, incluem hemorragia, infecção de ferida operatória, abcessos, trombo embolismo, complicações cardíacas e óbito. Como os dadores são cuidadosamente seleccionados, as complicações graves não são frequentes, apresentando uma taxa de mortalidade de aproximadamente 1%.O rim esquerdo geralmente é o preferido para doação devido ao longo comprimento de veia renal esquerda em relação à direita. Após a nefrectomia, o rim é colocado numa solução de preservação. De seguida é implantado no receptor.
Importa dizer que, ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, o novo rim não é implantado no lugar do rim doente. Na realidade, é criado um novo espaço, na parte acima e ao lado da bexiga, onde se torna mais fácil reconstruir as estruturas necessárias e onde consegue ficar mais protegido pelos ossos da bacia do receptor. Trata-se deste modo de uma cirurgia muito delicada sendo também necessário ligá-lo à artéria e veia do receptor e também à uretra da bexiga para que a urina possa seguir o seu destino certo.
Pós-transplante / Riscos
Após a cirurgia, iniciam-se os cuidados médicos que vão durar para toda a vida do paciente. Exames clínicos e laboratoriais são feitos diariamente durante os primeiros 15 a 20 dias para diagnosticar e prevenir as rejeições.
Relativamente às infecções, o período pós-transplante é dividido em três fases:
Até seis semanas após o transplante, quando as infecções são, na sua maioria, secundárias ao procedimento cirúrgico. A ferida operatória e o trato urinário são locais mais frequentes de infecções;
Até 6 meses, quando há predomínio das infecções oportunistas. É durante este período que o risco de desenvolver tuberculose e infecção por citomegalovírus (CMV) é mais elevado;
A partir dos seis meses após o transplante, quando podem ocorrer infecções semelhantes à população em geral além de infecções oportunistas. É importante salientar que os quadros infecciosos em pacientes transplantados podem ter carácter mais grave e apresentações atípicas, ou seja, diferentes dos pacientes que não tomam imunossupressores.
Existem também complicações cirúrgicas, às quais o paciente transplantado está sujeito, podendo levar ao seu internamento. As principais são:
- Vasculares: Trombose de artéria renal, Trombose de veia renal, linfocele (acumulação de linfa, próxima ao órgão transplantado);
Urológicas: Fistula urinária, obstrução urinária;
Outras: Hematoma de loja renal, ruptura renal, ruptura de anastomose arterial.
O período de recuperação é, em média, um mês. A duração média do internamento hospitalar é uma semana. As suturas ou clipes são removidos aproximadamente uma semana após a cirurgia. O paciente deve movimentar as pernas com frequência, para reduzir o risco de trombose venosa profunda.
Após a alta, o transplantado faz exames clínicos e laboratoriais semanalmente, durante 30 dias, e posteriormente duas vezes por mês. Os três primeiros meses são os mais difíceis e perigosos, porque é o período no qual ocorre o maior número (75%) de rejeições e complicações infecciosas.
A partir do terceiro mês, iniciam-se os exames mensais durante 6 meses. O controlo vai se espaçando conforme a evolução clínica e o estado do rim.
Nunca, sob hipótese alguma, o paciente pode interromper ou modificar a medicação, ou deixar de fazer os exames indicados. É uma obrigação para o resto da vida. Uma falha pode ser fatal. A crise de rejeição pode ocorrer a qualquer momento, mesmo após muitos anos de um transplante bem sucedido.
Apesar do uso de medicamentos supressores do sistema imunitário, costumam verificar-se um ou mais episódios de rejeição pouco depois da intervenção cirúrgica. A rejeição pode implicar retenção de líquidos e, como consequência, aumento de peso, febre, dor e inflamação na zona em que tiver sido implantado o rim. As análises de sangue podem mostrar que o funcionamento renal se está a deteriorar. Se os médicos não tiverem a certeza de que se está a verificar uma rejeição, podem efectuar uma biópsia por punção (colher um pequeno fragmento de tecido renal com uma agulha e observá-lo ao microscópio).
A incidência de cancros nos pacientes para quem se transplantou um rim é de 10 a 15 vezes mais elevada do que nas restantes pessoas. O risco de se desenvolver um cancro do sistema linfático é cerca de 30 vezes maior do que o normal, provavelmente porque o sistema imunitário está inibido
No entanto, as pessoas com rins transplantados fazem habitualmente uma vida normal e activa.
Resultados
Cerca de 90 % dos rins provenientes de dadores vivos funcionam bem um ano depois de terem sido transplantados. Durante cada um dos anos seguintes, de 3 % a 5 % desses rins entra em falência. Nos casos em que são transplantados rins de um indivíduo acabado de morrer, os resultados são igualmente bons: entre 85 % a 90 % funciona bem após 1 ano, e entre 5 % a 8 % deles falha durante cada ano subsequente. Os rins transplantados funcionam, por vezes, mais de 30 anos.
Sónia Moreira, 26 de Abril de 2010