sexta-feira, 30 de abril de 2010

Registo Nacional de Não Dadores

A legislação portuguesa assenta no conceito de doação presumida, o que significa que uma pessoa a partir do momento em que nasce adquire o estatuto de dador. Para que alguém se torne não dador, terá que por iniciativa própria ou através de alguém de direito que o represente (pais, no caso de menores) submeter ao Registo Nacional de Não Dadores os impressos próprios para objecção à colheita de órgãos disponíveis em qualquer centro de saúde. Esta objecção poderá ser total ou parcial.


O Registo Nacional de não Dadores (RENNDA) foi criado com o objectivo de viabilizar um eficaz direito de oposição à dádiva, assegurando e dando consistência ao primado da vontade e da consciência individual.


O ficheiro automatizado do RENNDA tem por finalidade organizar e manter actualizada, quanto aos cidadãos nacionais, apátridas e estrangeiros residentes em Portugal, a informação relativa à indisponibilidade para a colheita de órgãos ou tecidos.
Os estabelecimentos hospitalares públicos ou privados que procedem à colheita post mortem de tecidos ou órgãos para transplante devem, antes de iniciada a colheita, verificar, através dos gabinetes coordenadores de colheita e transplantação e dos centros de histocompatibilidade, a existência de oposição ou de restrições à dádiva constantes do RENNDA. Para tal, estão directamente ligados ao ficheiro automatizado.
A colheita de tecidos pelos institutos de medicina legal só pode ser realizada após verificação da não oposição à mesma, através de consulta do RENNDA.

Para se inscrever no Registo Nacional de Não Dadores, a pessoa em questão deve preencher o impresso próprio e entregá-lo no respectivo centro de saúde, em qualquer altura da sua vida.
Esta objecção à doação de órgãos é um processo reversível. Para anular este processo o cidadão deve submeter impressos próprios ao Registo Nacional de Não Dadores demonstrando vontade em anular a respectiva objecção.


A entidade responsável pelo ficheiro automatizado do RENNDA é a Administração Central do Sistema de Saúde, IP.

Verónica Cabreira, 30 de Abril de 2010

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Transplantes Renais

O que é um transplante renal?

O transplante renal é o procedimento médico-cirúrgico no qual um rim, que anteriormente era de outra pessoa (doador), é colocado num indivíduo cujos rins não desempenham a sua função (receptor). Este rim passa a desempenhar todas as funções dos rins originais.

Neste tipo de transplante o dador pode ser vivo ou morto (morte cerebral). No caso de dador vivo, este pode ser da família (pai, mãe, irmão, filhos), ou outra pessoa relacionada com o receptor. Todos os dadores vivos devem estar em plena consciência do acto que estão a praticar. Após serem examinados clínica e laboratorialmente e se não apresentarem nenhuma contra-indicação podem doar o rim. Algumas vezes são realizados transplantes com doador vivo não relacionado (por exemplo: esposa (o)). Nesses casos a investigação realizada é muito maior e deve haver algum grau de compatibilidade dos tecidos para não haver rejeição. É muito importante que o sangue e os tecidos do dador sejam compatíveis com os do receptor. Essa semelhança evita que o sistema de defesa imunológica do receptor estranhe o novo rim e o rejeite. Para isso, são feitos exames da tipagem sanguínea (ABO) e dos antígenios dos glóbulos brancos (HLA).
Para as pessoas cujos rins deixaram de funcionar, o transplante é uma alternativa à diálise que lhes pode salvar a vida e que além disso tem sido efectuado com êxito em pessoas de todas as idades.

O transplante é uma grande cirurgia porque o rim doado deve ser ligado aos vasos sanguíneos e às vias urinárias do receptor.

Técnicas cirúrgicas


Na doação intervivos, a nefrectomia (remoção do rim) pode ser realizada através do método convencional ou laparoscópico. As vantagens da técnica laparoscópica incluem: cirurgia menos invasiva, menor cicatriz, menor tempo de internamento hospitalar e maior aceitação de muitos doadores. As potenciais complicações associadas à nefrectomia, seja laparoscópica, seja convencional, incluem hemorragia, infecção de ferida operatória, abcessos, trombo embolismo, complicações cardíacas e óbito. Como os dadores são cuidadosamente seleccionados, as complicações graves não são frequentes, apresentando uma taxa de mortalidade de aproximadamente 1%.O rim esquerdo geralmente é o preferido para doação devido ao longo comprimento de veia renal esquerda em relação à direita. Após a nefrectomia, o rim é colocado numa solução de preservação. De seguida é implantado no receptor.
Importa dizer que, ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, o novo rim não é implantado no lugar do rim doente. Na realidade, é criado um novo espaço, na parte acima e ao lado da bexiga, onde se torna mais fácil reconstruir as estruturas necessárias e onde consegue ficar mais protegido pelos ossos da bacia do receptor. Trata-se deste modo de uma cirurgia muito delicada sendo também necessário ligá-lo à artéria e veia do receptor e também à uretra da bexiga para que a urina possa seguir o seu destino certo.


Pós-transplante / Riscos

Após a cirurgia, iniciam-se os cuidados médicos que vão durar para toda a vida do paciente. Exames clínicos e laboratoriais são feitos diariamente durante os primeiros 15 a 20 dias para diagnosticar e prevenir as rejeições.

Relativamente às infecções, o período pós-transplante é dividido em três fases:

  • Até seis semanas após o transplante, quando as infecções são, na sua maioria, secundárias ao procedimento cirúrgico. A ferida operatória e o trato urinário são locais mais frequentes de infecções;

  • Até 6 meses, quando há predomínio das infecções oportunistas. É durante este período que o risco de desenvolver tuberculose e infecção por citomegalovírus (CMV) é mais elevado;

  • A partir dos seis meses após o transplante, quando podem ocorrer infecções semelhantes à população em geral além de infecções oportunistas. É importante salientar que os quadros infecciosos em pacientes transplantados podem ter carácter mais grave e apresentações atípicas, ou seja, diferentes dos pacientes que não tomam imunossupressores.
Existem também complicações cirúrgicas, às quais o paciente transplantado está sujeito, podendo levar ao seu internamento. As principais são: 
  • Vasculares: Trombose de artéria renal, Trombose de veia renal, linfocele (acumulação de linfa, próxima ao órgão transplantado);

  • Urológicas: Fistula urinária, obstrução urinária;

  • Outras: Hematoma de loja renal, ruptura renal, ruptura de anastomose arterial.
O período de recuperação é, em média, um mês. A duração média do internamento hospitalar é uma semana. As suturas ou clipes são removidos aproximadamente uma semana após a cirurgia. O paciente deve movimentar as pernas com frequência, para reduzir o risco de trombose venosa profunda.

Após a alta, o transplantado faz exames clínicos e laboratoriais semanalmente, durante 30 dias, e posteriormente duas vezes por mês. Os três primeiros meses são os mais difíceis e perigosos, porque é o período no qual ocorre o maior número (75%) de rejeições e complicações infecciosas.

A partir do terceiro mês, iniciam-se os exames mensais durante 6 meses. O controlo vai se espaçando conforme a evolução clínica e o estado do rim.

Nunca, sob hipótese alguma, o paciente pode interromper ou modificar a medicação, ou deixar de fazer os exames indicados. É uma obrigação para o resto da vida. Uma falha pode ser fatal. A crise de rejeição pode ocorrer a qualquer momento, mesmo após muitos anos de um transplante bem sucedido.

Apesar do uso de medicamentos supressores do sistema imunitário, costumam verificar-se um ou mais episódios de rejeição pouco depois da intervenção cirúrgica. A rejeição pode implicar retenção de líquidos e, como consequência, aumento de peso, febre, dor e inflamação na zona em que tiver sido implantado o rim. As análises de sangue podem mostrar que o funcionamento renal se está a deteriorar. Se os médicos não tiverem a certeza de que se está a verificar uma rejeição, podem efectuar uma biópsia por punção (colher um pequeno fragmento de tecido renal com uma agulha e observá-lo ao microscópio).

A incidência de cancros nos pacientes para quem se transplantou um rim é de 10 a 15 vezes mais elevada do que nas restantes pessoas. O risco de se desenvolver um cancro do sistema linfático é cerca de 30 vezes maior do que o normal, provavelmente porque o sistema imunitário está inibido

No entanto, as pessoas com rins transplantados fazem habitualmente uma vida normal e activa.

Resultados

Cerca de 90 % dos rins provenientes de dadores vivos funcionam bem um ano depois de terem sido transplantados. Durante cada um dos anos seguintes, de 3 % a 5 % desses rins entra em falência. Nos casos em que são transplantados rins de um indivíduo acabado de morrer, os resultados são igualmente bons: entre 85 % a 90 % funciona bem após 1 ano, e entre 5 % a 8 % deles falha durante cada ano subsequente. Os rins transplantados funcionam, por vezes, mais de 30 anos.


Sónia Moreira, 26 de Abril de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Feito o primeiro transplante total de cara do Mundo!!!

O primeiro transplante total de cara do Mundo foi feito no Hospital Vall d'Hebron, em Barcelona. Demorou 22 horas e envolveu 30 profissionais.

Doente recebeu um transplante de toda a pele e músculos da cara, nariz, lábios, maxilar superior, dentes e a mandíbula superior

O receptor do primeiro transplante total de cara do Mundo é um jovem que sofria de uma deformação grave, provocada por um acidente, que o impedia de respirar, pelo nariz e pela boca, de falar e de deglutir.

Feito o transplante total da cara, os médicos esperam, agora, que o doente comece "dentro de algumas semanas, a falar, a comer, a sorrir e a rir".

A previsão foi feita pelo chefe do serviço de Cirurgia Plástica e Queimados, Joan Pere Barret, que dirigiu a equipa multidisciplinar do centro hospitalar catalão que fez a intervenção, no dia 22 de Março.

O doente recebeu um transplante de toda a pele e músculos da cara, do nariz, dos lábios, do maxilar superior, todos os dentes, o palato, as bochechas e a mandíbula, por via de uma cirurgia plástica e de uma microcirurgia reparadora dos vasos sanguíneos, e encontra-se agora "bem e recupera satisfatoriamente”, explicou Barret.

Até à data, realizaram-se 11 transplantes de cara, mas todos parciais.

O procedimento de recolha de tecidos faciais terminou com a reconstrução de uma máscara com a forma da cara do paciente.Os tecidos foram colocados em líquidos de preservação, um processo idêntico ao efectuado com os órgãos em espera para ser transplantados.

Os responsáveis pela intervenção explicaram, em conferência de imprensa, que a revasculização da cara e a chegada de sangue à totalidade transplantada é "básica para o êxito do implante, um processo que se realizou com êxito".

"Não houve rejeição e substituíram-se as seguintes estruturas: maxilar, mandíbula, nariz, bochechas, mucosa, músculos e nervos e pele", detalharam fontes do hospital.

"O paciente tem cicatrizes à frente e no pescoço, mas no futuro ficarão completamente dissimuladas", garantiu Barret, recordando que os ossos da cara implantada devem adaptar-se, agora, à estrutura craniana do jovem.

O doente, depois de ter visto a sua nova cara, ficou “satisfeito”, explicaram fontes hospitalares. "Olhou-se ao espelho quando os psicólogos asseguraram que já estava preparado. Tinha passado uma semana desde a operação e reagiu bem", explicou o coordenador.

O jovem, que sofria há cinco anos de uma deformação grave, precisa no mínimo de mais dois meses, antes de ter alta clínica, apesar de os especialistas não terem apontado uma data concreta. Até lá, o doente continuará a fazer reabilitação e, depois, poderá ter "uma vida praticamente igual à que tinha antes do acidente".

Antes da intervenção cirúrgica, o homem foi submetido a uma avaliação psicológica para garantir que estava preparado para assimilar quer os possíveis riscos, quer o facto de ficar com um aspecto diferente do que tinha antes do acidente.

in edição on-line do JN  de 23 de Abril de 2010
Vanda Craveiro, em 23 de Abril de 2010

sábado, 17 de abril de 2010

Transplante de células da medula óssea benéfico para doenças cardiovasculares

O transplante de células mononucleares da medula óssea directamente no coração é benéfico para os doentes que sofrem de angina refractária, afirma um estudo publicado na Cell Transplantation.

As células da medula óssea produzem várias citoquinas que estão envolvidas no controlo dos processos inflamatórios e angiogénicos. Os glóbulos brancos produzidos na medula óssea têm, portanto, um papel importante no mecanismo de neovascularização, podendo contribuir para a revascularização do coração.


O procedimento cirúrgico, por detrás deste estudo, denominado de "Refractory Angina Cell Therapy (ReACT)" envolveu múltiplas injecções no coração de células mononucleares da medula óssea provenientes dos próprios doentes.
O estudo revelou que o procedimento teve efeitos benéficos nos oito doentes em que foi executado. Estes doentes sofriam de angina refractária e tinham sido submetidos previamente a revascularização cirúrgica. Os investigadores constataram que o alívio dos sintomas de angina teve início três meses após o procedimento, com uma melhoria contínua ao décimo segundo mês e uma melhoria sustentada ao décimo oitavo mês.

O sucesso da formação de novos vasos sanguíneos, ou angiogénese, que restabeleceram a perfusão nas áreas isquémicas do miocárdio, parece estar relacionado com a quantidade de monócitos transplantados. Em cerca de 15% dos doentes que sofrem de doença coronária, a angina não pode ser controlada pela combinação das terapias existentes, incluindo a terapia com fármacos, a angioplastia coronária ou a cirurgia de bypass. Assim, este novo procedimento poderá vir a ter grande importância como tratamento alternativo.


Fonte: RCM Pharma
Verónica Cabreira, 17 de Abril de 2010

Exposição do projecto na ESEQ - Dia 19 de Abril

Olá!
Na próxima segunda-feira vamos realizar na nossa escola uma exposição na qual daremos a conhecer, a toda a comunidade escolar, o nosso projecto e desenvolvimento do mesmo. Para tal estarão afixados diversos cartazes das actividades que ja realizamos, serão expostas fotografias das mesmas e imagens relacionadas com o tema, noticias sobre transplantes, serão distribuidos panfletos e teremos também o modelo de órgãos do corpo humano.
Este é um dos cartazes informativos que fiz para a exposição. Quando realizámos os inquéritos à comunidade escolar verificámos que muitos alunos e até professores demonstraram não saber o que é Xenotransplantação. Como tal, este cartaz foi feito com o intuito de os esclarecer. Como muitas mais pessoas também devem ter dúvidas relativamente a este tema, decidi publicar aqui no blogue o cartaz. Deste modo conseguimos também informar todos os nossos seguidores. Aconselho também a leitura de outro artigo que foi anteriormente publicado sobre este tema.


Todos os alunos, professores e funcionários da ESEQ estão convidados para visitarem a nossa exposição!

Sónia Moreira, 17 de Abril de 2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

1º Transplante de traqueia inteira

Pela primeira vez foi transplantada uma traqueia inteira. Este transplante foi feito num menino britânico de dez anos, no hospital Great Ormond Street for Hospital for Children, em Londres.

Do órgão doado foram retiradas células do dador, deixando apenas a armação de colagéneo. De seguida foram injectadas células estaminais do menino na armação. Os médicos esperam que estas células de especializem e dêem origem ao interior e exterior da traqueia.

O rapaz sofria de estenose traqueal congenital, uma malformação rara caracterizada pelo reduzido diâmetro da via aérea. Quando nasceu, a sua traqueia media apenas 1 milímetro de largura.

Os médicos britânicos e italianos responsáveis pelo transplante esperam que o procedimento reduza o risco de rejeição já que o sistema imunitário do menino não deve repelir a nova traqueia.
 
Sónia Moreira, 16 de Abril de 2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Americanos expandem células estaminais em laboratório

Um estudo publicado na "Nature Medicine" revela que o processo de expansão em laboratório de células estaminais do sangue do cordão umbilical "é possível e é seguro", o que aumenta "significativamente a velocidade da recuperação da hematopoiese [produção de células sanguíneas pela medula] e a eficiência dos transplantes" em leucemias.



Este processo poderá erradicar com a actual maior restrição ao uso das células estaminais do sangue do cordão umbilical em adultos, que se prende com o facto de algumas amostras não conterem células em número suficiente para poderem ser utilizadas, com sucesso, em transplantes.



Colleen Delaney, da Division of Clinical Research do Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle (EUA), é a líder da equipa de investigação que desenvolveu uma metodologia optimizada e clinicamente viável, que permite expandir as células estaminais progenitoras do sangue do cordão umbilical, tendo em vista a sua utilização clínica, sendo este "o primeiro relato de um enxerto rápido proveniente de células estaminais progenitoras expandidas 'ex vivo'".



Os investigadores realizaram ainda um ensaio clínico de fase um, em que o sangue do cordão umbilical, manipulado daquela forma, foi transplantado em humanos, após um tratamento com quimio e/ou radioterapia, tendo em vista a erradicação das células sanguíneas tumorais.



Segundo David Ferreira, especialista em imuno-hemoterapia e responsável médico da Crioestaminal, o mais importante neste estudo “é o facto de se pegar num determinado número de células e, com processos laboratoriais, multiplicá-las", revelando-se a aplicação segura nas pessoas que as receberam, sendo que "este avanço científico vem comprovar o potencial que representa hoje em dia a criopreservação das células estaminais do sangue do cordão umbilical".



Contudo, o especialista alerta para a necessidade de novos estudos que possam avaliar a eficácia do processo, nomeadamente "ensaios clínicos mais alargados, de fase dois e três".



in Ciência Hoje (12 de Abril de 2010)
Vanda Craveiro, em 14 de Abril de 2010

sábado, 3 de abril de 2010

Colheita e Transplantação de órgãos em Portugal

 
O processo normal para um transplante é iniciado por um médico que em consulta com o doente lhe indica o diagnóstico e a terapia mais adequada que neste caso poderá passar por um transplante. O doente terá sempre o direito de escolha entre fazer ou não fazer um transplante depois de devidamente informado pelo médico. Caso escolha fazê-lo, o médico inscreve o doente numa lista de espera, depois de reunir informações de compatibilidade através de análises de sangue e de tecidos, ficando estas guardadas a aguardar pela disponibilidade de um dador compatível.

A partir daí, o período de espera é variável e geralmente um pouco demorado tendo em conta a pouca disponibilidade de órgãos para transplante. Quando um órgão fica disponível, o doente é contactado para que num espaço de tempo muito reduzido a intervenção se realize. Os órgãos regra geral não sobrevivem muito tempo fora do corpo humano, pelo que se um doente não estiver contactável perde imediatamente a sua vez para outro.

Em Portugal colhem-se os seguintes órgãos, tecidos e células:

• Órgãos: rim, rim + pâncreas, coração, pulmão, fígado;
• Tecidos: pele, válvulas, vasos, peças osteoarticulares, membrana amniótica, córnea;
• Células: percursores hematopoiéticos (medula óssea e cordão umbilical) e células reprodutoras.
Os tecidos ou órgãos doados podem provir de uma pessoa viva ou de alguém que acabou de falecer com o diagnóstico de morte cerebral. É preferível contar com tecidos e órgãos de um dador vivo, porque as possibilidades de que sejam transplantados com sucesso são maiores.

No entanto, órgãos como o coração, os pulmões e os componentes do olho (a córnea e o cristalino) só podem provir de alguém que tenha morrido recentemente, em regra devido mais a um acidente do que a uma doença. Os dadores mais adequados são aqueles que apresentam uma idade inferior a 35 anos, ou 40 no caso das mulheres e sem historial de doença cardíaca. Em alguns casos, várias pessoas podem beneficiar do transplante de órgãos provenientes de um único cadáver. Por exemplo, teoricamente um dador poderia fornecer córneas para duas pessoas, rins para outras duas, um fígado para um doente, pulmões para dois e ainda um coração para outra pessoa.

Os cinco gabinetes de coordenação de colheita de órgãos e transplantação (GCCOT) funcionam nos hospitais de Santo António e de São João, no Porto, nos Hospitais da Universidade de Coimbra e nos hospitais de São José e de Santa Maria, em Lisboa. Cada gabinete integra diversos hospitais onde é autorizada a colheita e a transplantação de órgãos.

A detecção e validação do dador competem ao coordenador hospitalar de doação, que dá conhecimento disso ao seu Gabinete Coordenador. Assim, quando o óbito por morte cerebral de um paciente é confirmado, numa das unidades de cuidados intensivos de um Hospital, cabe ao Gabinete de Coordenação de Colheita de Órgãos e Transplantação avaliar se o paciente preenche ou não os critérios da colheita.

Primeiro, é necessário verificar se o paciente não está inscrito no Registo Nacional de Não Dadores (RENNDA), isto é, se não manifestou em oposição à colheita de órgãos. De seguida, providencia-se o envio de sangue e gânglios do dador para tipagem e outras análises no Centro de Histocompatibilidade (três no País: Norte, Centro e Sul).


Compete também ao Gabinete Coordenador organizar a equipa de colheita multiorgânica com todo o material de que necessita, bem como assegurar o transporte, da equipa, do material e dos produtos colhidos, quando o dador se encontra num hospital diferente daquele onde está o Gabinete sediado. Habitualmente, uma extracção dos órgãos doados oscila entre 3 e 6 horas mas este intervalo depende sempre do tipo e das características dos órgãos e tecidos doados.

Compete ainda ao Gabinete transportar os órgãos aos hospitais onde vai ser feito o transplante. A escolha dos doentes em lista de espera para transplante de um órgão é feita segundo critérios biológicos de grupagem ABO e tipagem HLA-DR e cross-match. São considerados critérios de prioridade, como seja o grau de urgência, a idade, peso e outros.

Em princípio, a distribuição é regional, obedecendo às áreas de influência dos cinco gabinetes. Nos casos de urgência, a alocação é feita a nível nacional. No entanto, está protocolada com a ONT espanhola a possibilidade de fazer apelo urgente de fígado para esse país e para qualquer um dos órgãos colhidos em que não haja um receptor compatível em Portugal, os órgãos são oferecidos aos congéneres europeus, que podem ter oportunidade de transplantá-los.

Todo o processo que envolve a colheita, a deslocação e o transplante dos órgãos tem de ser rápido, dado que o tempo de espera dos órgãos é muito limitado, como já foi referido. Para o rim, o normal são 24 horas, o fígado e o pâncreas, até 12 horas e o coração e os pulmões só podem manter-se durante 6 horas.
A complexidade da cirurgia do transplante e a impossibilidade da sua programação, sempre dependente da ocorrência de um dador, torna imperioso manter as equipas com o nível de preparação técnica necessário e a disponibilidade constante que os programas exigem.
Já no circuito dos tecidos e células, interpõe-se, frequentemente, um dispositivo de armazenamento, um chamado banco (de tecidos ou células). Os tecidos são provisoriamente acondicionados e rotulados para envio aos bancos de tecidos onde são definitivamente preparados e conservados até que algum serviço os requisite para aplicação.

São objecto de comunicação à ASST todas as colheitas de tecidos e órgãos e todos os transplantes de órgãos, medula e córnea. A certificação da realização destes transplantes é comunicada pela ASST à Administração Central do Sistema de Saúde, IP, para disponibilização do pagamento dos incentivos aos hospitais que realizaram os transplantes.

Os custos de todo o processo desde a colheita à transplantação são assegurados pelo Sistema Nacional de saúde.

Verónica Cabreira, 3 de Abril de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Transplante de Face

O transplante de face é um procedimento cirúrgico no qual algumas estruturas da face de uma pessoa são transplantadas para uma outra.

O primeiro transplante de face parcial ocorreu a 27 de Novembro de 2005. A paciente francesa, Isabelle Dinoire, perdeu o nariz, os lábios e o queixo ao ser atacada pelo seu próprio cão. Na cirurgia, os médicos fizeram um implante de pele, gordura e vasos sanguíneos, que foram removidos de um dador com morte cerebral.


 A segunda intervenção cirúrgica deste género realizou-se na China, a um caçador desfigurado pelo ataque de um urso (o transplante afectou dois terços do rosto), que em 2008 veio a falecer.


Connie Culp foi a primeira estadunidense a fazer um transplante facial. A americana, de 46 anos, teve parte da face destruída por um tiro disparado pelo próprio marido em 2004. Como a bala atingiu o seu nariz, as bochechas, o maxilar e um olho, Culp vivia com centenas de fragmentos do projéctil e de ossos alojados no rosto. Para respirar, teve de ser feita uma abertura na traqueia. Após passar por 30 procedimentos médicos nos últimos cinco anos, Connie recebeu o transplante no dia 10 de Dezembro de 2008 numa clínica de Cleveland.


Até agora não existem registos de transplantes totais de rosto, sendo que os transplantes realizados até aqui foram apenas parciais.
Estes tipos de transplante são tecnicamente possíveis, embora complexos do ponto de vista científico.
Os transplantes faciais não são muito realizados mundialmente, devido ao défice de dadores mas, acima de tudo, devido às questões éticas e morais que assume.

Vanda Craveiro, em 1 de Abril de 2010