«A vida é apenas o eterno recomeço de acontecimentos, de circunstâncias e de situações para muitos de nós.»
Esta semana visitei o blogue de Jorge Silva e descobri a sua história, que decidi desde logo divulgar e assim passar o seu testemunho de esperança, que me pareceu único.
No seu blogue, Jorge introduz-se assim:
"Olá a todos, pretendo com este blog ser um um exemplo de esperança para aqueles que sofrem com doenças similares. Estou ainda disponivel para prestar qualquer esclarecimento relacionado com a fibrose quistica ou transplante pulmonar."
Claro está que depois de ler esta introdução procurei ler mais e encontrei este resumo feito por Jorge, que nos conta as etapas que antecederam o transplante:
"Doente de fibrose quística e de uma insuficiência renal que me obrigou a entrar em diálise em janeiro de 2002, parecia estar condenado a contar os dias de vida que me restavam. Seguido no hospital S. João e informado por este que havia um hospital na Corunha disposto a pegar no meu caso, sem hesitar aceitei deslocar-me lá em 11/2006. Entrei em lista em 02/2007 e a 3-10-2008 foi realizado o transplante duplo, bi-pulmonar e renal, inédito a nivel mundial por se realizar numa cirúrgia única."
Uma espera díficil para quem necessita urgentemente de um transplante, como é o caso de muitos doentes a quem é diagnosticada a doença genética: Fibrose Quística.
Pulmões, pâncreas e fígado são os órgãos mais afectados por esta doença, a ponto de o Jorge ter enfrentado infecções pulmonares sistemáticas e não conseguir estar mais de oito dias sem tomar antibióticos. E foi assim que o excesso de medicamentos lhe trouxe mais uma complicação: insuficiência renal. Sete anos antes do transplante começou a fazer diálise e a partir daí tudo ficou mais difícil.
Aos 22 anos quando foi internado pela primeira vez no Hospital de S. João, no Porto, os médicos deram-lhe meses de vida. Mas também uma esperança: fazer um duplo transplante na Corunha.
Querendo fugir à inevitabilidade de uma doença que tem uma esperança média de vida de 30 anos, Jorge e a esposa decidiram agarrar a oportunidae sem saberem que esta operação nunca tinha sido feita.
Chegaram à Corunha no dia 28 de Novembro de 2006. Jorge só seria operado a 3 de Outubro de 2008.
Mais do que a distância da família e a ansiedade da espera, o mais doloroso para Jorge foi a reanimação, os 52 dias que passou nos cuidados intensivos, entubado, sem falar e sem conseguir dormir.
Na fase inicial pós-transplante, existe risco de infecções e uma grande dose de imunossupressores para evitar uma rejeição dos órgãos, mas depois tudo volta ao normal, tanto quanto possível. Agora tem três rins, dois que não funcionam e um transplantado. E tem dois pulmões novos com o código genético do dador, o que os defenderá da fibrose quística.
No primeiro ano verificam-se as consultas sistemáticas no S. João e muitas idas à Corunha mas com apenas 38 anos e uma grande história para contar, Jorge gostava de voltar a trabalhar para se sentir útil à sociedade e para ajudar a família.
Agora é tempo de olhar para o futuro. Jorge Silva fez o primeiro duplo transplante pulmões-rins do mundo e tem razões para se sentir feliz.
Aqui fica o seu testemunho que é simultaneamente uma mensagem de esperança:
«Fui o exemplo de que nada é impossível. E aos olhos de outras pessoas com problemas similares sou um símbolo de esperança. Espero que vejam em mim uma luz, uma porta aberta»
«Após dois anos de luta, depois de tudo o que fiz a família passar, as montanhas que cruzei... sinto que sobrevivi e que rejuvenesci».
Pode também conferir abaixo a reportagem da RTP sobre este transplante inédito, que inclui uma entrevista a Jorge e o parecer de uma nefrologista do Hospital de S.João acerca dos riscos desta cirurgia:
Esperamos que todas as histórias semelhantes a esta possam ter um dia um final feliz como muitas que já conhecemos e que no futuro a oportunidade que muitos anseiam esteja disponível também no nosso país.
Muitas felicidades para o Jorge Silva, a Ana Filipa, a Sandra Campos e para todos os portugueses transplantados e ainda muita coragem para a Elisabete Bovião e muitos outros que ainda esperam por uma nova vida.
Fontes: Blogue de Jorge Silva, IOL Diário - "O primeiro transplante duplo do mundo é português", Vídeos Sapo
Verónica Cabreira, 31 de Janeiro de 2010