O número de colheitas representa, segundo disse à Lusa Germano Oliveira, responsável do Gabinete de Colheita e Transplantação do HSJ, "um grande motivo de orgulho" para as equipas responsáveis, em especial porque passaram de "zero para 22", em apenas um ano.
Contudo, o responsável lamentou que todos os órgãos tenham sido exportados para Espanha, pelo que isso representa em termos de "perda de know-how e experiência" para os especialistas portugueses.
Esta situação, disse, deve-se à “ineficácia do programa” de transplantação pulmonar, que em Portugal está centralizado no Hospital de Santa Marta, em Lisboa.
O desconforto para os doentes e os custos para o Estado português, por esta situação, foram também apontados por Germano Oliveira que, no entanto, se congratulou com o facto do trabalho das equipas responsáveis na recolha dos pulmões (coordenadas pelo HSJ) ter contribuído para acabar com a lista de espera de portugueses hospedados na Corunha, Galiza, a aguardar transplante pulmonar, neste ano.
O hospital da Corunha, tem todo o interesse em transplantar alguns portugueses porque além de serem "bem pagos", as operações representam "uma fonte de experiência" e contribuem para o "desenvolvimento daquela unidade de saúde".
No entanto, revelou o responsável, dos 22 pulmões enviados para Espanha, a maioria foi transplantada em espanhóis.
"Chegamos a ter uma lista de 12 portugueses na Corunha, à espera de transplante do pulmão. Dessa lista, a informação que eu tenho é que, actualmente, estão três a aguardar, os outros foram todos transplantados, dos quais um morreu", afirmou o clínico na data.
Segundo Germano Oliveira, o HSJ tem sinalizado para transplante em Espanha, além dos três casos "activos" (prontos para transplante) mais dois em estudo.
Em Portugal, apenas o Hospital de Santa Marta em Lisboa faz transplantes pulmonares mas, por razões que Germano Oliveira escusou comentar, não tem tido capacidade de resposta às necessidades do país, que "necessitaria de transplantar 25/30 pulmões por ano".
Com uma média anual de dois/três transplantes, desde que foi lançado em 2001, o programa de transplantação pulmonar em Portugal tem-se revelado insuficiente, o que leva os doentes portugueses a tentar a sorte em Espanha.
Germano Oliveira disse à Lusa que o Hospital de S. João envia os doentes para o Hospital de Santa Marta e só ao fim de um certo tempo, caso não obtenha resposta, procura outra alternativa.
A alternativa, "até agora", tem sido a Corunha, adiantou o responsável, admitindo o interesse do Hospital de S. João em aderir ao programa de transplante pulmonar.
"Acho que deveríamos pensar nisto", afirmou Germano Oliveira, referindo que o processo deve iniciar-se pela formação das pessoas que terão a responsabilidade de tratar doentes transplantados.
“Não vamos começar a fazer uma coisa que é arriscada, em que as pessoas podem morrer, sem termos médicos capazes de tratar o doente depois deste vir do bloco operatório", salientou.
Referiu que esse processo de formação já decorre, uma vez que o Serviço de Pneumologia do S. João assume o tratamento dos seus doentes transplantados em Espanha.
O objectivo, sustentou, é que "a médio prazo possamos ter aqui uma equipa de pneumologistas que seja perfeitamente capaz e autónoma para tratar uma pessoa transplantada ao pulmão".
"Uma vez concluída essa etapa, é que o Hospital de S. João poderá, eventualmente, avançar para a etapa anterior que é a transplantação", disse.
O responsável salientou que "os pulmões são órgãos muito raros e que a sua colheita é a mais difícil de todas".
"Se os conseguimos recolher, e se temos pessoas à espera, porque não admitir essa hipótese de transplantar?”, perguntou.
Germano Oliveira frisou que do ponto de vista cirúrgico, o transplante pulmonar "não é muito complicado. O problema é o pós-operatório, com todos os riscos de infecção e rejeição".
Procedimento médico efectuado num transplante de pulmão
in Lusa / AO online, 2008-03-18
Verónica Cabreira, 23 de Dezembro de 2009
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