As fronteiras da medicina alargaram-se, durante os últimos anos do século passado, para dimensões nunca antes imaginadas.
A 3 de Dezembro de 1967, Christian Barnard, um cirurgião Sul-Africano, realizou o primeiro transplante cardíaco num ser humano. Foi um grande avanço científico que permitiu salvar muitas vidas.
Este avanço nas ciências médicas não foi, contudo, acompanhado pelo avanço do pensamento, à semelhança do que já acontecera com grande parte dos avanços científicos e tecnológicos alcançados no século XX. Presentemente efectuam-se transplantes das mais variadas naturezas. É uma excelente evolução da ciência que preserva e prolonga vidas humanas.
Mas este avanço científico trouxe consigo um outro problema: Como encontrar órgãos disponíveis e em condições de serem transplantados para fazerem face às necessidades dos doentes?
O tráfico de órgãos não é um mito urbano, é uma realidade.
O Relatório da ONU revelou que o tráfico de órgãos humanos para transplante já é um crime à escala mundial.
A falta de doadores nos sistemas oficiais de captação de órgãos para transplantes e a pobreza são factores que se combinam para criar os mercados negros.
Pacientes do Norte rico viajam para comprar órgãos retirados de homens, mulheres e crianças de nações do Sul pobre onde essas transacções não estão reguladas, sendo as cirurgias feitas nesses mesmos locais. Um pacote, que inclui viagem e cirurgia, é negociado até 160 mil dólares. Muitas vezes, entretanto, o paciente acaba por precisar de cuidados médicos ao regressar ao país de origem, já que as cirurgias são feitas de forma precária.
A estimativa é que cerca de 5 a 10% dos transplantes feitos anualmente no mundo sejam motivados pelo tráfico.
O relatório pede um acordo internacional que defina como tráfico qualquer transacção de órgãos, à margem dos sistemas nacionais de transplantes.
Ao todo, até o fim de 2007, quase 60 mil pessoas aguardavam órgãos na Europa. No ano anterior, apenas 29.500 pacientes conseguiram ser transplantadas. Estima-se que 12 europeus morram por dia aguardando órgãos. Nos Estados Unidos, a fila era de 95 mil e só 25.300 cirurgias foram realizadas, em dois anos.
Alguns médicos defendem a legalização da venda de órgãos. Num artigo publicado na revista médica Kidney International, os especialistas dizem que as campanhas tradicionais para recrutar mais dadores estão a fracassar, e o mercado negro de órgãos, cada vez maior. Eli Friedman, um médico renal da Universidade Estadual de Nova York, e Amy Friedman, uma especialista em transplantes da Universidade de Yale, defendem a ideia com o argumento de que os indivíduos têm direito sobre os seus próprios corpos. Mas especialistas britânicos dizem que a medida não é necessária e resultaria na exploração de pessoas pobres.
E se um qualquer ser humano em estado de extrema miséria se vir na necessidade de ir vendendo partes do seu corpo para sobreviver? Os olhos? Os rins? Os pulmões? Os dedos?
Será aceitável?
A crise económica que afecta a Espanha levou dezenas de pessoas, entre espanhóis e latino-americanos, a colocarem à venda os seus órgãos na internet. São ofertas de venda de rins, pulmões e medula óssea realizadas por pessoas que dizem estar a atravessar graves problemas financeiros e pedem quantias que oscilam entre 15 mil euros e 1 milhão de euros.
A crise económica que afecta a Espanha levou dezenas de pessoas, entre espanhóis e latino-americanos, a colocarem à venda os seus órgãos na internet. São ofertas de venda de rins, pulmões e medula óssea realizadas por pessoas que dizem estar a atravessar graves problemas financeiros e pedem quantias que oscilam entre 15 mil euros e 1 milhão de euros.
Doar órgãos é um acto de solidariedade que permite salvar muitas vidas, não só dos doentes como também das vítimas do tráfico de órgãos. Se todos nós fossemos dadores, as listas de espera diminuiriam e este crime organizado não seria tão lucrativo.
A doação de órgãos é um acto de amor à vida, não um negócio…
Sónia Moreira, 11 de Novembro de 2009
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