Pesquisadores de Munique (Alemanha) divulgaram na revista Transplantation que tinham criado porcos geneticamente modificados. Esses porcos poderiam, num futuro não muito longínquo, produzir órgãos que gerariam menos rejeição ao serem transplantados para seres humanos. Este tipo de transplante é denominado Xenotransplante (transplante de órgãos entre diferentes espécies).
Ao transplante entre dois membros, embora geneticamente distintos, pertencentes à mesma espécie chama-se alotransplante. Nos humanos o alotransplante apresenta um papel clínico muito importante, principalmente envolvendo órgãos como rins, coração, medula óssea e fígado. Os alotransplantes trouxeram benefícios significativos aos doentes quer pelo aumento da esperança de vida, quer pelo melhoramento da mesma. Na verdade, o sucesso foi tal que provocou um fosso entre a procura da transplantação e a escassez de órgãos e tecidos humanos. Deste modo, foram elaboradas diversas campanhas de sensibilização à doação de órgãos. No entanto, não foram suficientes para aumentar o número de dadores.
O xenotransplante é uma opção alternativa para reduzir a escassez de órgãos e tecidos humanos. Contudo o xenotransplante trouxe muitos problemas éticos, clínicos e legais.
Um dos problemas clínicos que surgiram foi o facto de os doentes que receberam xenotransplantes terem morrido num curto espaço de tempo. Médicos investigadores descobriram que a causa principal é o sistema imunitário dos receptores que rejeitava o tecido doado, ou seja, os anticorpos do receptor que reagem contra as infecções reagem também contra os órgãos ou tecidos transplantados. A rejeição do tecido estranho, a qual começa minutos ou algumas horas após a cirurgia, destrói os capilares dos órgãos transplantados, provocando hemorragias. Apesar deste fenómeno representar uma barreira para os xenotransplantes, recentes descobertas indicam que os cientistas estão bem encaminhados para ultrapassá-la.
Actualmente, admite-se que uma das formas de evitar a rejeição, será alterar o sistema imunitário do receptor de forma que o seu organismo não possa destruir o tecido transplantado.
Com os xenotransplantes os custos são ainda maiores do que nos alotrasplantes e as taxas de sucesso são, actualmente, aproximadamente zero. Como é óbvio a taxa de insucesso deve-se ao facto de esta técnica ainda não estar completamente desenvolvida.
Os xenotransplantes trazem outro risco que é o aparecimento de novas doenças. Existem muitas doenças que os animais (neste caso os utilizados nos xenotransplantes) podem transmitir aos humanos e que são desconhecidas pelo Homem. No organismos dos animais há bactérias e vírus que estabelecem entre si relações de simbiose. Para estes animais, eles não representam doenças, pois esses parasitas ali evoluíram e encontraram o seu equilíbrio. Porém, quando esses parasitas entram em contacto com o organismo humano e encontram nesse novo hospedeiro uma nova possibilidade de colonização, novas doenças podem surgir. O prazo de quarentena seria necessário para os pacientes, suas famílias e equipas médicas. Da mesma forma, os animais usados para o transplante necessitariam de maior observação para o possível aparecimento de novos agentes patogénicos. Todos estes factores implicariam elevados gastos financeiros.
Desde logo, neste tipo de tecnologias coloca-se a questão ética de saber até que ponto é legítimo ao homem utilizar animais em benefício próprio. Existe uma corrente que defende a não utilização de animais uma vez que qualquer animal, racional ou não, tem o direito de viver livre de dor, sofrimento e seguir o seu próprio interesse. Do outro lado, estão os defensores da utilização, uma vez que os seres humanos já matam animais para comer e usam as suas peles e outros produtos em seu beneficio, pelo que esta nova utilização não traz novas implicações éticas.
A tendência actual é a utilização de porcos transgénicos como dadores pois é mais dificilmente aceitável sacrificar um primata, um animal mais parecido com o homem, do que utilizar um animal já tradicionalmente utilizado para satisfazer as necessidades humanas.
Se os xenotransplantes se tornarem bem sucedidos abrirão oportunidades de vida prolongada a muitos pacientes com doenças terminais. Em contrapartida, um elevado número de animais teria que ser sacrificado. O impacto seria particularmente crucial se as espécies em questão, estivessem em perigo de extinção.
Sónia Moreira, 28 de Novembro de 2009
1 comentário:
Gostei da notícia. Os xenotransplantes serão a melhor opção para a falta de dadores humanos? Questão muito polémica.
ES
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