quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Insuficiência renal crónica e Transplante Renal

A doença renal crónica é uma patologia progressiva, com elevada taxa de mortalidade, que ameaça tornar-se num grave problema de saúde pública com implicações sérias no Serviço Nacional de Saúde.

Estima-se que em Portugal mais de 800 mil pessoas sofram desta doença. Todos os anos são registados 2.200 novos casos de insuficiência renal crónica terminal, existindo actualmente 14 mil doentes dependentes de diálise, dos quais 5.000 são transplantados.
Dependendo da raça e da região do mundo, todos os anos, cerca de 100 a 500 pessoas num milhão desenvolvem insuficiência renal terminal.

Os rins humanos têm cerca de 11cm de comprimento, 5cm de largura, 3cm de espessura e a forma de um feijão. Entre as principais funções dos rins destacam-se a eliminação dos resíduos tóxicos produzidos pelo nosso organismo, a eliminação do excesso de água do organismo através da urina - efeito diurético - e a produção de algumas hormonas essenciais (como a hormona que regula a tensão arterial e a eritropoietina, uma hormona fundamental na formação dos glóbulos vermelhos).
Diariamente, aproximadamente 180 litros de sangue são filtrados e refiltrados pelos rins. Em situações normais o rim produz cerca de 1,2 litro de urina por dia. Sendo assim, a Insuficiência Renal, é uma condição na qual os rins perdem sua capacidade de filtrar adequadamente o sangue e regular o equilíbrio de sal e água do corpo (osmorregulação).

A doença renal crónica não escolhe idades nem sexo, embora a sua incidência seja maior nos adultos e idosos. A diabetes, a obesidade e a hipertensão arterial, quando conjugadas com os factores hereditários de doença renal crónica, são indicadores possíveis de se vir a contrair este problema.
Outras causas de insuficiência renal crónica incluem infecções urinárias frequentes, glomerulonefrites (inflamações) e malformações do aparelho urinário e também pode acontecer devido a exposição a longo prazo ao chumbo, mercúrio ou certos medicamentos, especialmente os analgésicos.

Esta patologia é considerada não reversível, vai piorando lentamente, tendo na sua fase terminal como tratamento apenas a hemodiálise, a diálise peritoneal (processo de depuração do sangue no qual a transferência de solutos e líquidos ocorre através de uma membrana semipermeável, o peritoneu, que separa a cavidade abdominal do capilar peritoneal) e o transplante renal.

Factores de risco compostos

Factores de risco para doença renal crónica:
• Diabetes Mellitus (cerca de 40% dos doentes);
• Hipertensão (aproximadamente 30% dos insuficientes renais, uma vez que os rins controlam o nível dos líquidos e dos sais do nosso organismo, tendo assim uma grande influência na pressão arterial);
• Uso de anti-inflamatórios não esteróides.

Factores de risco cardíacos:
• Obesidade;
• Hiperlipidemia;
• Tabagismo;

Factores de risco gerais:
• Idade avançada;
• Mais comum em não-caucasianos;
• Dieta com elevado valor proteico;

Como a lesão dos rins na Insuficiência Renal Crónica é progressiva e lenta, os sintomas também se desenvolvem devagar, iniciando-se normalmente quando mais de 80 por cento da função dos rins se encontra perdida.

Os principais sinais de alerta para a sua existência são:

→ Ardor ou dificuldade em urinar;
→ Urinar frequentemente, sobretudo durante a noite;
→ Urinar com sangue;
→ Olhos, mãos e/ou pés inchados, especialmente em crianças;
→ Dor na região lombar que não se altera com o movimento;
→ Tensão arterial elevada.


O transplante renal é então uma cirurgia que proporciona melhor qualidade de vida aos doentes cuja função renal está comprometida, permitindo que estes abandonem as longas e repetidas sessões de hemodiálise ou de diálise peritoneal.
Este transplante pode ser realizado com dador cadáver ou dador vivo*, o que aumenta a taxa de sucesso deste transplante, sendo que de acordo com a actual lei portuguesa o dador pode ser aparentado ou não. O transplante de rim pode ainda ser realizado conjuntamente com outros órgãos, como o fígado, o pâncreas e o coração.

Nesta cirurgia, o rim transplantado é colocado no abdómen do doente e ligado à bexiga, onde começa a trabalhar fazendo a depuração do sangue e consequentemente voltando a eliminar de forma natural os produtos tóxicos do organismo.

Medidas preventivas nos cuidados de saúde primários:

• Ter um estilo de vida saudável, praticando exercício físico regularmente e tendo especial atenção à alimentação - aumentar o consumo diário de fruta, vegetais e lacticínios e moderar o consumo de gorduras, sal, açúcar e álcool;
• Medir regularmente a tensão arterial;
• Realizar anualmente análises ao sangue e à urina mesmo que não se sinta qualquer sintoma;
• Controlar cuidadosamente os níveis de glucose em pacientes diabéticos e aconselhar uma dieta a todos os doentes renais crónicos;
• Tratar outros factores de risco cardiovascular tradicionais, em especial o tabagismo e a hipercolesterolemia;
• Evitar medicação potencialmente nefrotóxica;
• Consultar um nefrologista, apesar de muitos dos cuidados em curso poderem ser realizados pelos prestadores de cuidados de saúde primária.
A prevenção de doenças renais crónicas é possível e o tratamento precoce pode atrasar a progressão e reduzir o risco cardiovascular.

Conselhos práticos de alimentação para insuficientes renais consultar aqui.

* Uma história especial para mim: Guillaume e Patrick

Recentemente um familiar meu foi sujeito a transplante de rim, devido a insuficiência renal agravada ao longo dos anos, associada a outros problemas de saúde. Guillaume tem dezoito anos e recebeu um rim do seu pai Patrick, meu "tio". Ambos residem em França e logo que o problema se foi agravando, procederam ao internamento do Guillaume num dos Hospitais de Paris. No entanto, o estado de saúde do meu "primo" não era favorável à realização do transplante e este só pôde ser realizado em Dezembro. O Guillaume luta dia após dia, tomando toda a medicação que lhe é prescrita e apesar de ter a noção da sua condição de saúde, ser portador de uma patologia relativamente rara que lhe foi diagnosticada à nascença, é uma pessoa com uma vitalidade imensa e um exemplo de coragem. O seu pai Patrick, encontra-se neste momento tal como o Guillaume ainda a recuperar mas concerteza muito feliz por ter ajudado o Guillaume a ultrapassar esta fase. É também ele um exemplo de pessoa, pai e amigo.

Dedico-lhes estas palavras:

For you, both my friends and my family I have just one word: courage!
You have come so far and none of this was in vain. I'm sure that this was a step forward in the Guillaume's bright future and every difficult moment you faced is rewarded with smiles everyday. When I heard the news about the transplant, I was very surprised and concerned about you, especially now that I'm conducting this project. But I could not have been more touched by this gesture of love.
I'm witness to your struggle and I hope that in a near future we can be together again. I'm sure that you know that despite the distance I give you all my support. I'm proud to know you and Guillaume: you should have the greatest pride in the wonderful father you have :)

Lot of kisses and a big hug
Your friend, Verónica

Verónica Cabreira, 18 de Fevereiro de 2010

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